~The Boss.
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“E daquele lado específico me sentei. Levantei subtamente, quase que num pulo e fui pedir uma cerveja. Quando voltei lançou um olhar específico, que eu sabia muito bem o que dizia: ‘Será que posso confiar nessa cadeira?!’. Com aquele sorriso bobo, confirmei com a cabeça, como se dissesse que podia confiar, que a cadeira não ia quebrar. Havia passado algumas noites pensando, decifrando, e tentando encontrar alguma solução, sugestão, mudança, alternativa, para que progredíssemos com os negócios. Havia transcritos meus pensamentos para um caderninho, e até então contava com 5 folhas cheias de grafite, inteligência e suor.
Depois do primeiro gole soltei: “Trouxe minhas anotações, quer que eu vá falando sobre, ou quer ler e ir me pedindo explicações?”
– Deixa que eu vou lendo. Assim me concentro mais.
Um minuto de silêncio… Para mim ele não havia compreendido muita coisa, mas insistia em virar as páginas num movimento de desespero, ansiando pelo final. De repente, começou a me dar explicações do que já havia feito (atitude que ele tomou em relação ao primeiro tópico do primeiro assunto, na primeira folha), e quissá surtirá efeito. Fechou o caderno, entornou o seu copo, e me chamou pra ir embora, dizendo que depois lia. Sabia eu que meu tempo era curto, mas não esperava tanta rapidez. De fato não temos um bom tempo juntos, desde que eu tinha uns 6 anos e ainda dependia muito mais do que hoje da atenção, do carinho, dos cuidados e de tudo que vinha dele. Aquilo me magoou profundamente. Disse que ia ficar. E por lá fiquei… sentada, sozinha, bebendo e relendo meu próprio discurso impresso. Queria chorar, e rasgar todas aquelas folhas malditas em minúsculo papéizinhos. Passou…
No outro dia, com a cabeça fresca, e cheia de novas esperanças, lancei a pergunta, enquanto ele assistia pela milésima vez, o filme do Chuasneguer:
– Quer o caderno?
– Me dê, vou lendo nos intervalos.
Atendi seu pedido. Uma semana se passou, e o caderno continua intacto, na mesinha da sala, juntando poeira e pêlos.
Desde então caí numa pertinente indagação: Será porque sou mulher, ou será o medo de ser melhor que ele?
Freud explica.”
Boa noite.